sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

FASCITE PLANTAR E ESPORÃO DE CALCÂNEO: UM PROBLEMA LEVA A OUTRO


Dores nos pés, na musculatura, nos ossos e em partes moles são as principais reclamações dos pacientes. Acontece que os pés podem ressentir-se da pressão do peso do corpo mal distribuída. Com isso, costumam surgir calos e calosidades. Num primeiro momento, isto já é sinal de que algo não está bem. Com o tempo, a pessoa poderá sentir dores nas pernas, nos joelhos, quadris e até na coluna. A sola do pé é a primeira parte do corpo que sofre com o impacto provocado pelo peso e pela movimentação. Duas doenças nesta parte do corpo que as pessoas confundem são a fascite plantar e o esporão de calcâneo.
O esporão de calcâneo é uma calcificação óssea provocada por uma fascite plantar, que é a inflamação de uma membrana próxima ao osso na região do calcanhar, estrutura responsável por dar apoio ao arco do pé. Muitos acham que a fascite plantar é um problema nos nervos, mas não é. Para que a pessoa não sinta muitas dores, principalmente, pela manhã, quando pisa no chão após levantar da cama, os médicos costumam receitar palmilhas, que aliviam o impacto com o chão. Principalmente em atletas, é bastante frequente ocorrer a fascite plantar. Muitas vezes, o esporão ocorre em corredores acima do peso e o problema faz com que sintam muita dor e impede que eles avancem nos treinos. É preciso ir ao ortopedista e tratar de acordo com as recomendações.
Além da confusão entre as duas doenças, existe um outro mito em relação ao tratamento do esporão. Apenas um em cada mil pacientes com esporão de calcâneo é submetido a cirurgia. No geral, a cura vem com a prática de exercícios físicos específicos, palmilhas, fisioterapias e terapias por onda de choque ortopédico ou titotripsia ortopédica (semelhante à que é feita para quebrar pedras nos rins). Até banhos de águas sulfurosas podem trazer alguma melhora. Portanto, na maior parte das vezes, o tratamento é clínico, realizado por meio de exercícios de alongamento do tendão de Aquiles e da fáscia plantar. Estudos revelam que 80% dos portadores de esporão de calcanhar melhoram após seis a oito semanas de tratamento. Além da fisioterapia, medicamentos para amenizar as dores e conter a inflamação podem ser benéficos. Ao persistir a doença, especialistas recomendam a terapia de ondas de choque extracorpóreas. Os tratamentos cirúrgicos costumam ser raros, cabendo somente a casos específicos.
Para entender a origem do esporão de calcanhar é importante lembrar que a planta do pé é composta por estruturas elásticas (músculo) e rígidas (fáscia), que potencializam a força dos músculos flexores curtos dos dedos, um sistema que funciona como um braço de alavanca. Na prática, essas estruturas aumentam a eficiência do impulso, que é acionado quando o calcanhar se distancia do solo.
Um estresse excessivo nesta região provoca um estiramento da fáscia, originando fissuras e inflamação. Entre as principais causas estão a retração do tendão calcâneo, conhecido popularmente como tendão de Aquiles, e pés com a curvatura acentuada, rígidos, pouco flexíveis ou pronados.
A cada ano, cerca de um milhão de brasileiros e 2,5 milhões de americanos procuram os consultórios de ortopedistas queixando-se de dores no calcanhar. A maior parte desses pacientes apresenta fascite plantar. A metade dos casos de fascite plantar evolui para um quadro de esporão de calcâneo.
As pessoas mais suscetíveis a ter esporão são mulheres com idade entre 40 e 50 anos, praticantes de esportes como caminhada e corrida. Há, ainda, incidência significativa de casos entre as que trabalham em pé por longos períodos ou que sofrem com sobrepeso.
Por sua característica de crescimento do osso e em virtude de forçar a musculatura, a saliência formada pelo esporão provoca dor. O diagnóstico  costuma ser confirmado por exame radiológico, que mostra a formação de um osso sobre o outro. Fazer o teste da pisada, a baropodometria, é um recurso usado para detectar tanto o esporão de calcâneo quanto a fascite plantar. O exame consiste em caminhar em uma plataforma com sensores que registram o pé e seu movimento. É um teste que considera a biomecânica, isto é, o funcionamento. Os dados coletados são analisados em imagens computadorizadas que reúnem diversas informações sobre o pé estático ou em movimento, permitindo um diagnóstico mais completo. Uma pequena adernação para um lado do pé ao tocar o chão pode representar aquela dor na coluna que não se sabe de onde vem, por exemplo. O recurso é bastante utilizado por atletas que querem descobrir como estão se movimentando para melhorar seu desempenho, mas já é acessível para ajudar a elaborar diagnósticos a fim de orientar pacientes. A baropodometria também é usada para prevenir os problemas ortopédicos.
Há alguns problemas ortopédicos que podem surgir, principalmente, em atletas. Os pés de um corredor ou de um profissional que utilize a corrida em sua modalidade esportiva podem sofrer lesões devido ao impacto com o chão. Torções e inflamação do tendão de aquiles são bastante comuns. A torção pode vir acompanhada de estiramento dos ligamentos ao redor do tornozelo e convém não correr até que esteja curada, para não aumentar a lesão. O tendão de aquiles fica na parte de trás da perna e liga o pé à panturrilha. A prática da corrida, que tende a retesar a panturrilha, exige bastante deste tendão. Eventualmente, pode distender o tendão de aquiles, e isso provoca uma inflamação. A tendinite precisa ser tratada com repouso e medicamentos.
A lista de infortúnios que podem afetar os pés é grande e vai de traumas, infecções e inflamações a  doenças vasculares, metabólicas, neurológicas ou ortopédicas. A pele pode sofrer com infecções causadas por bactérias e fungos. É preciso evitar o uso de um sapato inadequado, que pode facilitar o surgimento de calos e também de outros problemas de saúde além do esporão de calcâneo e da fascite plantar: desvio da coluna (dor na cervical, lordose, cifose), dores na planta dos pés, bursite, dormência do tendão, dores musculares, estiramento, bolhas no pé, unha preta, calosidade, problemas nos joelhos, torção ou fratura.
Convém evitar forçar o pé, adotando esportes e atividades físicas adequadas a cada pessoa. A escolha do tênis correto é fundamental para evitar problemas. Ele deve ser adequado à atividade física e a seu biotipo, considerando peso altura e o formato do pé e de seus dedos. Recomendo que quando for comprar um tênis ou sapato faça um test drive: calce os dois pés e ande pela loja. O calçado deve ficar confortável e o tamanho dele deve permitir que fique uma folga de um centímetro para os dedos se movimentarem. Manter a boa postura em todas as partes do corpo é fundamental para evitar muitas dores e mesmo algumas doenças. Os pés ficam lá em baixo do corpo e muitas vezes são esquecidos e mal tratados. No dia a dia, o uso do sapato adequado pode evitar lesões.

FONTE: Fabio Ferraz do Amaral Ravaglia (CRM-SP 54.294 e RQE 11.990/89)

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